domingo, 24 de novembro de 2013

Apontamentos sobre a última noite do Festival Dança Três

Na última noite do Festival Dança Três (domingo, 3 de novembro), foram apresentadas coreografias do Grupo de Ballet Clássico Jimmy Eliot e Grupo Expressão, de Três Lagoas; do Projeto Corphomen na Dança, Grupo Bailah, Grupo Seishun e Grupo Expressão de Rua, de Campo Grande.

O Projeto Corphomen na Dança, apresentou “Encomum”, um experimento cênico que tratou da relação entre três homens e um banco vermelho. Os movimentos, que estavam visivelmente vinculados a técnicas de dança moderna, mantinham relação de ritmo e pulsação direta com a música, ou seja, a cada pausa que a música fazia, havia pausa na movimentação, assim como quando a música crescia de intensidade, os movimentos também cresciam, seja com saltos, ou com tônus mais forte.

“Encomum” apresenta questões semelhantes a “Diálogos possíveis”, apresentada pelo Grupo Ballet Isadora Duncan, na noite de sexta-feira, 1 de novembro. A técnica e os passos aprendidos em sala de aula pareciam preceder aquilo que se queria expressar e não se modificaram em contato com a composição coreográfica. Como se trata de técnica com grau de complexidade alto, demanda aperfeiçoamento em sua assimilação por parte dos dançarinos e, também, que sejam lançadas estratégias, ao longo da composição coreográfica, de aproximação dos passos com o contexto atual da coreografia. Aliar essas duas instâncias, que devem ser percebidas como sendo faces de um mesmo corpo e não como dualidades ou dicotomias, propicia uma fruição na qual o que chama a atenção em cena é o ato comunicativo daquela dança, em vez de o quanto os dançarinos estão, ou não, executando bem uma técnica.

Acredito que espetáculos da Quasar Cia. de Dança possam ser boas referências de pesquisa para o Projeto Corphomen. Há, inclusive, uma coreografia chamada “Mulheres”, criada por Henrique Rodovalho, em 2000, que trata da relação de três mulheres com um sofá vermelho. Deem uma olhada no trecho abaixo, disponível no youtube.


Trecho de “Mulheres” – Quasar Cia. de Dança


“Chuva”, do Grupo de Balé Clássico Jimmy Eliot, cuja trilha sonora é a música “Quando a chuva passar”, interpretada por Ivete Sangalo, apresenta composição que alia passos de técnica de balé com de dança jazz. Usa como elemento cênico guarda-chuvas, que situam o início e o fim da coreografia. Nela, há a predominância de movimentos realizados em grupo. Em dado momento, os dançarinos incorporam qualidades de movimento da água e da chuva, como se fossem pingos que escorrem até o chão e, quando em grupo, como se fossem a irrupção da chuva. Os movimentos são gerados em relação direta com o ritmo da música, assim como “Encomum”, do Projeto Cophomen. Os desenhos coreográficos são gerados tendo como pressupostos a frontalidade e a relação com o espaço mapeada pelo balé: diagonais, conjunto no qual uma pessoa não se sobrepõe à outra de acordo com uma frente, linhas retas, e um círculo no final.

O que primeiro poderia sugerir ao Grupo de Balé Clássico Jimmy Eliot, é a reflexão entorno do nome do grupo. Acredito que a especificação “Balé Clássico” no nome, compromete a possibilidade de experimentação de expressividades que extrapolem essa técnica já codificada e estruturada dentro de limites bem definidos, como é o caso da coreografia “Chuva”, que transita entre imagens de corpo do balé, da dança jazz e da experimentação cênica.

Outra sugestão é a de investir na investigação de qualidades de movimento do tema proposto para a coreografia, que implica em tônus (contração e relaxamento de força muscular), tempo (pausas, movimentos contínuos, lentos, rápidos) e uso do espaço. Se o tema trata de chuva e água, por exemplo, investigar as qualidades que compõe líquidos, que caracterizam liquidez das coisas podem ajudar a compor a coreografia. Acredito que intercâmbios com academias de balé de outras cidades do estado, como Estúdio de Dança Beatriz de Almeida, de Campo Grande, Escola de Balé Gisela Dória, e outras academias que atuam há mais tempo, como as de Dourados, pode fortalecer parâmetros para criações e para compartilhar estratégias de sobrevivência (dificuldades, conquistas, etc.). Além disso, sugiro que assistam vídeos de coreografias e espetáculos da Cia. do Mato (MS), Ginga Cia. de Dança (MS) e Ballet Stagium (SP). Podem ser boas referências de pesquisa de criação para o Grupo.


“Desiderata” – Cia. do Mato

“Choros” – Ballet Stagium


O Grupo Expressão, apresentou a coreografia “Cores e Expressão”, na qual demonstra processo de assimilação de técnicas de dança do ventre as quais as alunas estão entrando em contato. Foram realizados desenhos coreográficos simples, como filas em que cada dançarina se dispõe uma ao lado da outra, e em que uma fica atrás da outra. Acredito que espetáculos da Isa Yasmin Cia. de Dança sejam boas referências para o grupo ampliar as possibilidades de encenação.

O Grupo Expressão de Rua, apresentou “Dialetos”, que usou de estratégias como canons, e Grupo Seishun apresentou “Yochore”, com desenhos cênicos interessantes, por conta da alternância entre níveis (baixo e alto) e pela sincronia em que estavam se movimentando em grupo.

O Grupo Bailah, apresentou “Baile dos mortos”, cujo núcleo dramatúrgico se dá na contraposição entre um primeiro momento suave, lírico, e um segundo momento forte. A quebra entre um e outro se dá tanto pela mudança brusca de música quanto pela qualidade de movimento dos dançarinos. Poderiam ter ido mais a fundo na articulação com a referência ao filme “A noite dos mortos vivos” (1968), dirigido por George Romero, que trata, pela primeira vez no cinema Holiwoodiano, dos zumbis, os chamados mortos-vivos. Há a tentativa de inserir esses personagens, mas eles logo incorporam os passos de dança de salão, deixando de lado o estado de corpo de um possível zumbi. Além de poder trabalhar melhor a articulação desses personagens, dessa referência fílmica, sugiro o aprimoramento na assimilação das técnicas de dança de salão.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

::: Mesa de discussões ::: Dia 3 :::




Começamos a conversa do domingo, dia 3, analisando a coreografia “Forrobodó”, do Grupo Bailah.

Interessante como o grupo utilizou do “jogo” e da “brincadeira” para levar ao palco a dança de salão, dança em que importa mais o prazer espiralado do jogo do que um significado para cada passo. Por conta desses elementos levados para a cena, a coreografia criou um contexto para sua dança com variações de desenhos e de fluxo que potencializam a comunicação com a plateia. Sugiro ao Grupo Bailah que aperfeiçoe a assimilação das técnicas de dança de salão que lhe interessam, para que esteja presente no corpo dos dançarinos desde em corridas, brincadeiras, encenações até nos movimentos em conjunto.

"Forrobodó" do Grupo Baila. Foto: Aurélio Vinícius.

Logo em seguida, observamos comparativamente duas coreografias: “Roda de salsa”, do Grupo Bailah, e “Yoake”, do Grupo Seishun. Mayara Martins, diretora da academia de mesmo nome, sediada em Aquidauana, enfatizou, ao longo da conversa, o quanto a coreografia lhe chamou atenção e como não conseguia colocar em palavras os motivos de seu entusiasmo. Expressou-se em gestos: “começou assim”, disse pressionando uma mão contra a outra, “e finalizou assim”, disse abrindo os braços.

Houve um crescente de intensidade em “Yoake”, que significa “alvorada”, em japonês. Como a imagem da palavra sugere, a coreografia foi crescendo gradativamente de intensidade, desde a música, à quantidade de dançarinos em cena, de elementos cênicos – bandeiras, leques, lenços coloridos –, troca de figurinos, de saltos, e de gritos que intensificavam a pulsação da música. Além disso, a composição coreográfica foi enriquecida ao apresentar conjuntos heterogêneos, em que parte dos dançarinos pontuava pausas para baixo, enquanto outros pontuavam para cima.

"Yoake", do Grupo Seishun. Foto: Aurélio Vinícius.

Diferente de “Yoake”, “Roda de salsa” apresentou fluxo contínuo em sua composição. Começou e terminou com o mesmo desenho coreográfico – uma roda no centro do palco – e a cada repetição dos movimentos dos dançarinos era acrescentado um novo passo. Marcelo Victor da Rosa, diretor do Grupo Bailah, explicou que essa é uma dança tradicional, de domínio público, por isso não pôde ser alterada. Por esse motivo, acredito que poderiam ser estudadas maneiras de se diferentes de se dispor espacialmente essa dança já codificada: se fossem dispostas no palco duas rodas movendo-se simultaneamente, por exemplo, ou se uma estivesse alguns minutos mais avançada do que a outra, já seria criada uma composição heterogênea, que manteria a atenção do público por mais tempo.



O gesto antes da dança, a dança antes do gesto

Diversos participantes da conversa expuseram suas observações sobre o espetáculo “Versos da última estação”, apresentado por Vanessa Macedo, na abertura da noite de sábado.

Chamou-lhes a atenção o fato de Vanessa iniciar sua dança de costas para a plateia, sentada, sem se mover. O que movia era uma luz à sua frente e de frente para a plateia, que acendia e apagava. A outros, chamou a atenção o fato de em seus movimentos haver uma resistência: eram gerados a partir da pressão contra o chão, por exemplo. 

A dança da Vanessa não pressupõe um “gesto” antes de ela existir. Como a própria artista explicou, logo depois de sua apresentação, durante bate-papo com a plateia, o espetáculo nasceu de inquietações suas que se tornaram movimentos ao longo da criação e que, apesar de não serem “passos”, se repetem a cada apresentação, pois foram “coreografados”.

Já a dança apresentada pelo Grupo Maktub, por exemplo, o solo da princesa Aurora, trecho do espetáculo “A bela adormecida”, coreografada por Marius Petipa (1818-1910), composta por Tchaikovski (1840-1893), pressupõe gestos antes de ser encenada. Tornou-se repertório da dança disseminado em praticamente todos os países do mundo, portanto, antes do Grupo Maktub estrear, o solo já existia, os gestos já existiam e os passos organizados pela técnica do balé também. Dessa maneira, a questão coreográfica do Grupo Maktub torna-se distinta da de Vanessa Macedo, por exemplo. Uma das questões são os processos de assimilação desses gestos e dessa técnica para o contexto daquele corpo presente. 
"Aurora", apresentada pelo Grupo Maktub. Foto: Aurélio Vinícius.




Bailarino e artista: a mesma coisa ou coisas diferentes?

Ao longo da conversa uma dualidade emergiu: bailarino e artista foram consideradas instâncias separadas. Por quê?

Foi atribuído ao artista a ação de criar, de ter certo domínio sobre a obra. Ao bailarino, foi atribuído o papel de executar os comandos do criador. Nessa conversa toda, surgiu uma metáfora importante de ser analisada: a do corpo como folha de papel em branco.

Quando se trata de corpo não é possível utilizar a metáfora do papel em branco, da tábula rasa ou da madeira em estado bruto que será talhada. Porque antes de receber qualquer comando, o corpo já é um monte de coisa, um sistema complexo de diversas informações, umas mais estabilizadas que outras, que implicam tanto no modo de conectar ideias verbalmente, como na maneira de sentar, de levantar, de abrir os braços, de posicionar a coluna cervical. Tais afirmações estão baseadas em uma teoria chamada Corpomídia (2005), desenvolvida pelas pesquisadoras Helena Katz e Christine Greiner, que estudam corpo, dança e comunicação há mais de 20 anos.

Além disso, pela etimologia da palavra “intérprete”, que descende do romano interpres, que significa tradutor (1989), dá pistas para se compreender que em vez de passivo, o intérprete é ativo ao traduzir em seu corpo os comandos de um coreógrafo e diretor.



Análises breves

A coreografia “Brilhar”, da academia Brício Dance, tinha como elemento compositivo o acompanhamento da música pelos movimentos. Foram realizados desenhos com linhas retas, mantendo a frontalidade com a plateia. A coreografia “Um segredo”, da academia Mayara Martins, lançou mão de sincronias, dessincronias e canons. 


"Um segredo", da academia Mayara Martins. Foto: Aurélio Vinícius.

O Ballet Isadora Duncan apresentou “Celebração à vida”, cujos movimentos eram gerados de acordo com a pulsação da música. Havia recursos como canons e o espaço era preenchido em linhas retas.

O Grupo Expressão de Rua apresentou “D3” cuja composição criava espaços e tempos e desfazia-os rapidamente. “Big bang”, do Grupo Simbiose, criou uma dança de desfrute, que seguia a pulsação da música.



Referências de pesquisa:

GREINER, C. e KATZ, H. 2005 “Por uma teoria do Corpomídia”, in GREINER, C. O corpo, São Paulo, Annablume, pp. 125-133.

KATZ, H. 1989 “O claro enigma da tradução”, in HOGHE, R. e WEISS, U. (org.), Bandoneon: em que o tango pode ser bom para tudo?, São Paulo, Attar, pp. 9-10.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

::: Mesa de discussões ::: Dia 2 :::


Uma das questões que predominou durante a conversa da manhã de sábado, 2 de novembro, foi sobre como as danças podem ser diferentes e ter diversas motivações.

Tem gente que se ocupa mais em burilar uma técnica de dança e levar ao palco etapas do processo de assimilação dessa técnica;  tem gente cuja dança é gerada na relação com um objeto cênico; tem gente cujo interesse é experimentar questões espaciais, a disposição dos bailarinos no espaço e os desenhos que podem ser gerados, sem preocupação com uma técnica específica.

Palavras-conceitos como “belo”, “harmonia”, “movimento”, “técnica”, “método”, “experimento cênico” foram levantados. Todas essas palavras precisam ser usadas com cuidado, para não se tornarem apenas verdades de cada um. O que é técnica para um, pode não ser técnica para o outro. O que é dança para um, às vezes não é considerado dança para o outro. Ampliar o entendimento do que é e do que pode ser “movimento”, por exemplo, pode garantir mais elementos para criar, fazer a própria dança ultrapassar as regras que a regem, para se tornar um exercício de como algo pode chegar a ser mais coerente com aquilo que se quer expressar. Além disso, discutir sobre esses conceitos amplia também a percepção de outras danças.

E a quem mesmo interessa classificar o que é ou não é dança?

A pergunta é um convite à reflexão e meu palpite de resposta é o de que ao criador não interessa a classificação. Porque o processo de criação de qualquer obra artística passeia entre anseios particulares, técnicas e elementos expressivos, expressões artísticas diferentes, dúvidas!! – e isso não significa que a dança não tenha sua singularidade em relação às outras artes. Interessa a classificação quando se vai vender o próprio trabalho, aos ambientes de poder (públicos e privados). Quando se trata de poder público, essa questão passa a ser interesse de todos, por isso é preciso certo empenho em criar nomeações mais eficazes e menos excludentes.


Analisamos a coreografia “Resquícios de Loie Fuller”, da Isa Yasmin Cia. de Dança. Desde o nome, a coreografia remete a um evento da história da dança cênica. “Serpentine dance”, de Loie Fuller (1862-1928), foi registrada em vídeo, em 1886, pelos irmãos Lumiére, os criadores do cinematógrafo (Wikidança, 2013). Fica visível que o que liga, media a dança árabe da Isa Yasmin cia. de Dança com Loie Fuller, são os desenhos no ar gerados pelos leques (objeto das danças árabes) com seus tecidos. A apresentação dessa dança ritual foi enriquecida pelo uso do espaço.


 "Resquícios de Loie Fuller", da Isa Yasmin Cia. de Dança (Campo Grande/MS). Foto: Aurélio Vinícius.

Mas e quem não conhece o vídeo “Serpentine dance”, consegue “entender” a coreografia? – perguntou uma das participantes da conversa.

Acredito que quem não conhece esse evento da história da dança, se atém ao efeito dos tecidos e aos desenhos no espaço na coreografia. Quem conhece, tem a oportunidade de gerar maior complexidade de conexões ao longo da fruição.

Analisamos também “Diálogos possíveis”, dançada pelo Grupo Ballet Isadora Duncan. A coreografia apresentava diversos passos de dança moderna bem executados. No entanto, ficou-me a questão do que liga um passo no outro. Como fazer para que a coreografia não seja apenas uma exibição técnica? Senti que a imagem ideal da execução técnica predominava sobre o lento processo de assimilação dessa técnica pelas alunas, que implica em negociações, aceitações e descartes. 

"Diálogos possíveis", do Ballet Isadora Duncan (Campo Grande/MS). Foto: Aurélio Vinícius.

Sugiro a leitura do artigo “Método e técnica: faces complementares do aprendizado em dança”, escrito por Helena Katz, publicado no livro “Angel Vianna: sistema, método ou técnica” (2009), organizado por Suzana Saldanha, para ampliar o entendimento do que é ou pode ser uma técnica de dança. Está disponível aqui.

"Pequenas flores", da academia Mayara Martins (Aquidauana/MS). Foto: Aurélio Vinícius.

As academias Bricio Dance e Mayara Martins apresentaram exercícios cênicos que tratavam do acompanhamento da música pelos movimentos das crianças e, também, de desenhos no espaço. Foram bem executados e sugiro estudo mais aprofundado de musicalidade e de espacialidade. “Descaminhos”, do grupo de dança do Colégio Dom Bosco, de Campo Grande, apresentou coreografia com movimentos em conjunto.

"Descaminhos", do Colégio Dom Bosco (Campo Grande/MS). Foto: Aurélio Vinícius.
 

Em relação ao grupo CDN Crew, que apresentou “Urban move”, sugiro que assista mais coreografias de seus pares, para que amplie repertório de referências e enriqueça a composição. 


Luiza Rosa
luiza.almeida.rosa@gmail.com

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

::: Mesa de Discussões ::: Dia 1 :::


Primeiro dia de mesa de discussão deu ênfase aos elementos compositivos em dança. Foto: Secretaria Municipal de Cultura de Três Lagoas.

   Hoje pela manhã, em uma sala do alojamento Eldorado, foi realizada a primeira mesa de discussões do Festival Dança Três.
  Pautada em análise de experimentos cênicos apresentados na noite de ontem, a conversa seguiu mediada por Luiza Rosa, com a participação de integrantes do Grupo Simbiose (Três Lagoas); Expressão de Rua (Campo Grande); e de professores da academia Jimmy Eliot (Três Lagoas).
   Foram levantadas questões sobre os elementos que compõem uma dança. Para chegar a tal entendimento, foi lançada a pergunta: qual é a materialidade da dança?
Se a materialidade da pintura é a tela em contato com tintas, carvão, e outros materiais que deixam rastros; a materialidade da arquitetura são estruturas de concreto, tijolos, metais; a materialidade da dança é o corpo que gera ambientes em um palco, praça, ruas, casas, telas de televisão, cinema.
  E o corpo, para gerar um ambiente na dança, tem em sua natureza elementos como: tempo; espaço; tônus; e fluxos (LABAN, 1978).
  Com a consciência desses elementos é possível gerar novos instrumentos para seguir criando experimentos de dança que alcancem cada vez mais ou estejam mais em acordo com as vontades, desejos de expressão de seus criadores, e que, um dia, podem chegar a se tornar obras, performances, trabalhos, instalações.
  Ouviu-se alguns depoimentos hoje das pessoas que se apresentaram ontem como: “Quisemos trabalhar o encontro do jazz com o balé”, “Nossa dança trata da evolução histórica do jazz e funk”, “Fazemos uma dança de louvor”. Pergunta-se: como chegar a esses objetivos com as vantagens e limitações que a dança oferece?
  O Grupo Ministério de Dança Jovens de Fogo, com a coreografia “Belíssimo esposo”, fez uma dança baseada em gestos de louvor. Sugiro que estudem métodos de conhecimento do corpo que dança, como de Rudolf Laban e Klauss Vianna, para dar continuidade a suas criações. Não acredito que a técnica do balé seja eficiente para o objetivo que querem alcançar.
  Quando a questão de criação está envolta em uma técnica, a dança só emerge na relação com essa técnica e não parece ser essa a questão de criação do Grupo Ministério de Dança Jovens de Fogo. Talvez um método que abranja de uma maneira mais ampla, o conhecimento sobre o funcionamento do corpo, que amplie a percepção sobre detalhes e gestos que pode compor uma dança, mais do que regras disciplinares de como fazer cada movimento, ajude a chegar a uma sincronia maior e novas possibilidades para expressar o louvor.
  Surpreendeu-me a coreografia “Do funk ao funk”, do Grupo Simbiose, pela maneira como lidou com tema e técnica criados em outros contextos (Estados Unidos, décadas atrás), diferentes do sul-mato-grossense, e fez disso algo verdadeiro e adequado ao universo cotidiano em que vivem.  Interessante o início da coreografia, em que um casal está parado enquanto uma música toca. O contraste entre pausa dos corpos e movimento da música enriqueceu a composição da coreografia. A iluminação também estava de acordo com a movimentação dos dançarinos: mudava o ritmo na medida em que os dançarinos aumentavam ou diminuíam o tônus e a pulsação do movimento.
  Destaco, também, a relação entre coreografia e iluminação da coreografia “Spiritual Warface”, do Grupo LEDC. Fazer a luz acompanhar os movimentos dos corpos dos integrantes do grupo fez a composição enriquecer. Além disso, usar da comunicação por meio de libras para criar movimentos de dança, na relação com a dança de rua, deu certo e pode ser estudada ainda mais.
  A coreografia que apresentou problemas maiores na noite foi “Ballet/jazz”, da Academia de Dança Meninas. A questão trabalhada ao longo da coreografia foi a “hibridação” da técnica do balé com o jazz. Néstor García Canclini entende por hibridação: “processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas. (CANCLINI, 2008, p. XVIII e XIX).
  Ao longo da coreografia o que predominou foram exercícios da técnica do balé. Apenas um ou outro movimento no chão que remetem à dança jazz, além da música. Trabalhar a hibridização entre técnicas diferentes é uma ação que exige muito tempo de assimilação e treinamento. Sugiro que, enquanto exercício cênico, o grupo crie objetivos menos abrangentes que a hibridação de duas técnicas. Parece-me mais apropriado apresentar um exercício de técnicas de sapatilhas de ponta, com músicas da cultura pop ou atuais, em vez de almejar hibridar universos tão amplos quanto técnicas.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

MOSTRA ABERTA

Os estudantes de academias de dança, bem como artistas em início de carreira de criação, de Andradina, Três Lagoas, Aquidauana e Campo Grande, apresentarão seus exercícios cênicos nos dias 1, 2 e 3 de novembro, no auditório salesiano Dom Bosco. 
A Mostra Aberta se inicia sempre às 21h25, logo após a Mostra Profissional, que abre as noites do evento.  
Confira a programação:



1 de novembro // sexta-feira

 Isa Yasmin Cia. de Dança, em "Resquícios de Louie Fuller".
1. “Alouette”
Grupo Brício Dance (Três Lagoas/MS)
Coreógrafo: Fabrício Pereira da Silva

2. “Pequenas Flores”
Estúdio de Dança Mayara Martins (Aquidauana/MS)
Coreógrafa: Mayara Martins

3. “Resquícios de Loie Fuller”
Isa Yasmin Cia. de Dança (Campo Grande/MS)
Coreógrafa: Isa Yasmin

4. “Urban move”
Grupo CDN Crew (Andradina/SP)
Coreógrafo: Grupo CDN Crew

5. “Nosso segredo”
Projeto CorpHomen na dança (Campo Grande/MS)
Coreógrafo: Luan Ratacazzo

6. “Descaminhos”
Grupo Maktub (Campo Grande/MS)
Coreógrafa: Suzana Leite

7. “El Hagalla”
Isa Yasmin Cia. de Dança (Campo Grande/MS)
Coreógrafa: Isa Yasmin

8. “Party rock”
Grupo CDN Crew (Andradina/SP)
Coreógrafo: Renan Soares

9. “Diálogos possíveis”
Ballet Isadora Duncan (Campo Grande/MS)
Coreógrafos: Neide Garrido, Selma Pereira e Tinho Sherman




2 de novembro // sábado

Estúdio de Dança Mayara Martins, em "Um segredo".

1. “Brilhar”
Grupo Brício Dance (Três Lagoas/MS)
Coreógrafo: Fabrício Pereira da Silva

2. “Um segredo”
Estúdio de Dança Mayara Martins (Aquidauana/MS)
Coreógrafia: Mayara Martins

3. “Aurora”
Grupo Maktub (Campo Grande/MS)
Coreografia: Mairus Petipa
Adaptação: Suzana Leite

4. “Celebração à vida”
Ballet Isadora Duncan (Campo Grande/MS)
Coreografia: Margareth Viduani

5. “Forrobodó”
Grupo Bailah (Campo Grande/MS)
Coreografia: Construção Coletiva

6. “Yoake - Alvorada”
Grupo Seishun (Campo Grande/MS)
Coreógrafos: Gustavo Kenji Sakai, Cássio Arashiro de Lima e Jhonatan Cleyson Silvano Reynaldo.

7. “D3”
Grupo Expressão de rua (Campo Grande/MS)
Coreografia: Irineu Ruach, Lívia Lopes e Marcio Bruno

8. “Roda de salsa”
Grupo Bailah
Coreografia: Domínio Público

9. “Do funk ao funk”
Grupo Simbiose (Três Lagoas/MS)
Coreografia: Marcos Mattos, Irineu Ruach, Reginaldo Borges e Wellington Anjos





3 de novembro // domingo

Grupo Expressão de Rua.

1. “Chuva”
Grupo Ballet Clássico Jimmy Elliot (Três Lagoas/MS)
Coreografia: Jimmy Elliot


2. “Encomum”
Projeto Corphomen (Campo Grande/MS)
Coreografia: Tino Sherman


3. “Baile dos mortos”
Grupo Bailah (Campo Grande/MS)
Coreografia: André Esperidião, Ana Loureiro, Marcelo Victor da Rosa e Ralfer Campagna


4. “Yochore”
Grupo Seishun (Campo Grande/MS)
Coreografia: Gustavo Kenji Sakai e Jhonathan Cleyson Silvano Reynaldo 


5. “Cores e expressão”
Grupo Expressão (Três Lagoas/MS)
Coreografia: Pamela Dourado


6. “Dialetos”
Grupo Expressão (Três Lagoas/MS)
Coreografia: Marcio Bruno

terça-feira, 22 de outubro de 2013

MOSTRA PROFISSIONAL


De 1 a 3 de novembro, o público do Festival Dança Três poderá acompanhar espetáculos de artistas, grupos e companhias profissionais e independentes.
A maioria dos espetáculos, será apresentada no Anfiteatro do Colégio Dom Bosco, que fica na rua João Gonçalves de Oliveira, n. 359. Apenas a intervenção urbana “Posso dançar com você?”, da cia. campineira Domínio Público, ocorrerá na Lagoa, próxima à Casa do Artesão.
Confira a programação:


1 nov. // sexta-feira

S.(AR).A.H 
foto: Leandro D'errico
Foto: Leandro D'Errico

O amor intenso presente nas obras dos dramaturgos Sarah Kane e Antonin Artaud foi o ponto de partida para a criação do trabalho. O amor e seus desdobramentos são os vetores utilizados para a criação dos movimentos, que visam conduzir o público a um universo de sensações. A trilha executada ao vivo e a presença de um vídeo-cenário, que dialoga com as ações cênicas, ajudam na condução da trajetória emocional que acontece no palco.

Renata Aspesi iniciou seus estudos em dança clássica, em Brasília, com Gisele Santoro. Integrou, na década de 1990, a Euro City Ballet (Bélgica). Em Campo Grande, trabalhou com Chico Neller e Neide Garrido. Em São Paulo, estagiou no Balé da Cidade de São Paulo, integrou elenco da Cia. Borelli de Dança (2000-2005) e da Key & Zetta e Cia. (2005-2007). De 2008 a 2009, integrou elenco da PULTS Cia. de Dança, dirigida por Marcelo Bucoff e, desde 2010, é intérprete da Incunábula Cia. de Dança, dirigida por Roberto Alencar.

Espetáculo “S.(AR).A.H” (São Paulo/SP) 
Concepção e interpretação: Renata Aspesi 
Interpretação: Renata Aspesi e Thomas Basso
Direção: Laerte Mello
Desenho de Luz: Domingos Quintiliano 
Local: Anfiteatro Dom Bosco 
Horário: 20h15
Este projeto foi contemplado pelo Prêmio Célio Adolfo de Incentivo à Dança 2013
2 nov. // sábado

Versus da última estação
Foto: Sílvia Machado.
“Versus da última estação” discute a impotência e a fragilidade humana frente à morte. A pesquisa de gestos e movimentos propõe um corpo que se expõe e se entrega aos sentimentos de perda, solidão e efemeridade da vida.
 

Vanessa Macedo é coreógrafa, diretora e intérprete da Cia. Fragmento de Dança. Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1994), mestra em Artes pela Universidade de Campinas (2008) e doutoranda em artes cênicas pela ECA-USP. Iniciou seus estudos em Dança, com o Professor Edson Claro, em Natal-RN, no grupo de Dança da UFRN, depois de atuar por 10 anos como ginasta e técnica de Ginástica Rítmica. Integrou elenco da Cia. de Danças de Diadema, na Quasar Cia. de Dança e na Cia. Borelli de Dança.

Espetáculo “Versus da última estação”
Cia. Fragmento de Dança (São Paulo/SP)
Coreografia e Interpretação: Vanessa Macedo
Direção: Adriana Guidotte
Local:  Anfiteatro Dom Bosco
Horário: 20h15

3 nov. // domingo

Posso dançar pra você?  
 Foto: Débora Branco
Na paisagem dos centros urbanos, repleta de informação, andamos como passageiros do nosso próprio corpo, que passa, cruza, atravessa, mas pouco troca, afeta ou absorve. O que deixamos de nós e o que levamos conosco pelo caminho? Qual o espaço do toque, do afeto e da delicadeza nos dias de hoje? É preciso (re)descobri-lo todos os dias e é para isso que a Cia. Domínio Público vai para as ruas e pergunta: “Posso Dançar Pra Você?”.

A Cia. Domínio Público foi criada em 1995, em Campinas, pela dançarina e professora da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Holly Cavrell. Sua atuação está voltada para o desenvolvimento de novas expressões de linguagem corporal. Sua criações contam com colaboração de artistas do teatro, circo, cinema, música e dança. 

Intervenção urbana “Posso dançar pra você?”
Cia. Domínio Público (Campinas/SP)
Direção: Holly Cravell 
Intérpretes-criadores: Gustavo Valezi, Lineker, Sara Mazon e Talita Florêncio. 
Local: Lagoa, ao lado da Casa do Artesão.
Horário: 17h30

Figuras de Van
 Foto: Luis Ferreira

“Figuras de Van” foi inspirado na pintura "Os comedores de batata", de Vincent Van Gogh. Nessa obra, uma sala de jantar abriga uma família. Os traços de sua pintura expressam sensações e sentimentos escondidos no corpo, muito mais do que apenas um conjunto de formas realistas. Nesse trabalho, recriamos o mistério expressivo desta pintura, onde a aparente falta de movimento pode esconder uma intensa necessidade de explodir.


O grupo Danceato surgiu como extensão de uma oficina de dança-teatro ministrada à comunidade de Diadema (SP). Inicialmente voltada à preparação corporal para atores, tornou-se um espaço de estudo regular de técnica e criação em dança contemporânea e dança-teatro, constituindo-se enquanto grupo, em 1999. Suas encenações se dão no encontro da dança com o teatro.

Espetáculo "Figuras de Van"
Grupo Danceato (Diadema/SP)
Coreografia: Ana Bottoso
Direção: Ton Carbones
Elenco: Ana Carolina Soarejes, Anna Luiza Mascarelli, Camila Bosso, Douglas Salgado, Jennifer Baptista. Estagiárias: Karol Rocha e Luana Bomfim.
Local: Anfiteatro Dom Bosco
Horário: 20h15