segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Catalisando sonhos por Ana Carolina Mundim

Os sonhos são sementes que deixamos o vento lançar na terra e aramos na espera dos frutos. Sonhar junto é matéria complexa que contém camadas de quereres, olhares e gestos os quais se cruzam e passam a caminhar em um mesmo sentido, apesar das divergências. Reunir gente em torno de uma crença comum tem sido tarefa cada vez mais desafiadora na medida em que o individualismo neoliberal recai sobre nossos corpos e corpas. Perfurar esse contexto para ser ajuntamento requer bastante energia e uma profunda fé na força coletiva (aquela que nem sabemos que temos quando estamos sozinhos).

A Arado Cultural é um catalisador de encontros e a espinha dorsal que a sustenta revela que tudo é leve quando há desejo mútuo. Ainda que o humor deseje escapar em alguns momentos, a mobilização de danças e afetos o resgatam para dar o tom da celebração que é estarmos vivos e em ação. O respeito às diferenças, a sinceridade das relações e a aceitação dos dissensos abrem alas para a produção de um espaço democrático, que ensina que compromisso e diversão podem andar de mãos dadas quando se há confiança e seriedade no labor da Dança. É nesse espírito que o Festival Dança a Três resiste insistindo no cultivo do movimento sensível pra perfurar toda violência de um forte agronegócio que seifa cotidianamente a natureza que somos.

Em 2022 fui ao Festival para ministrar a oficina "Eu pulo bloco, e você?" Sim... porque me parece que não há nada mais agregador do que a própria insurgência que é o carnaval de rua. Não era a primeira vez que eu estava no Mato Grosso do Sul. Aliás, da última vez que lá estive, havia sido para dançar o espetáculo Cartas Abertas ao Desejo, com Paula Bueno, minutos após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais de 2018. Entramos em cena ao som de fogos de artifício lançados por apoiadores de extrema direita em comemoração à sua vitória no governo. Ali se explicitava com bastante fervor que o agro não é nada pop como nos querem fazer acreditar. 

Em meu retorno ao Mato Grosso do Sul, em 2022, estávamos novamente em disputa política, com um País totalmente dividido, agindo a semelhança das torcidas organizadas de futebol. O sistema embrutece. Em todos os lugares tocava música sertaneja e na estrada entre Campo Grande e Três Lagoas me perdi na contagem de caminhões que carregavam animais e árvores mortas.

Apenas este recorte de um contexto mais amplo já me fazia lembrar de como é preciso muita coragem para dialogar pelo bem comum. E, sobretudo, para produzir encantamento e fazer rir, como estratégias de subversão. Buscamos essa potência na carnavalização de corpos e corpas, a partir de uma residência artística. Jovens que, em sua maioria, nunca tinham passado pela vivência dos blocos de rua no carnaval, se entregaram para uma experiência crítica a partir da produção de alegria coletiva. Botamos o bloco na rua e convidamos a Lagoa Maior para dançar conosco! Foi bonito ver tanta gente em festa!

Eu pulo bloco, e você?

 "No contra ataque da guerra, arte!", já diz Flaira Ferro.

Nos dias de Festival acompanhei estéticas, pensares e fazeres de Dança tão distintos quantos complementares. E, ver tantas corporalidades suando pra fazer brotar vida, dá um afago no coração. Há uma sensação de que é possível. Então, que seja! Sigamos lançando as sementes porque o vento é invisível mas não pára.

Foto: Reginaldo Borges

Ana Carolina Mundim - professora artista convidada 


sábado, 13 de agosto de 2022

Mostra Aberta X Mostra Profissional e a eterna questão: quem é profissional na dança?

Desde a sua gênese, O Festival Dança Três procurou contemplar a produção em dança do estado de Mato Grosso do Sul principalmente, seja por meio de convites a artistas, grupos e companhias que produzem espetáculos, seja pelas convocatórias que são abertas a cada edição, para dar oportunidade àqueles artistas que criam coreografias curtas, muitas vezes limitadas ao tempo de uma música de sua escolha.

Dessa forma, o Dança Três distribui a sua programação em Mostra Aberta, para coreografias curtas e Mostra Profissional, para espetáculos, que de maneira bem simples, diferem das coreografias pela duração do trabalho apresentado, sendo também composto por coreografias. Essa foi a maneira encontrada pela produção do evento para abarcar o maior número de artistas.

Dito isso, passemos a falar sobre os convidados e selecionados da edição 2022 do Festival Dança Três.

A noite de abertura do Festival, 02 de junho, trouxe à Praça Ramez Tebet, o espetáculo R.U.I.A. realidade ultrassônica de invasão aleatória da Cia Dançurbana de Campo Grande. Criado para atender uma carência de espetáculos de dança para o público infantil, a Dançurbana apostou na multiplicidade de seu elenco para apresentar uma proposta super comunicativa, que brinca com a criança de cada um. O trabalho compôs a programação por meio do Projeto III Edição Circula Dançurbana.

Público na Praça Ramez Tebet

Artistas participantes

Em seguida, as atrações que subiram ao palco da praça, mostraram a diversidade da produção em dança de Três Lagoas, com coreografias de variados estilos, levando aos presentes o melhor da dança três-lagoense. Os grupos locais foram convidados a participar, através de interlocução da produção do festival com o Departamento de Cultura do município.

Se apresentaram nesta noite, Thiago Ramalho Cia de Dança, Studio Pamela Dourado, Studio de Dança Bricio Dance, Pole Studio A, Studio de Dança Elis Araújo, Kauan KL Cia de Dança, Junia Ziryab, Elis Araújo e Projeto “Éh Cultura” Diretoria de Cultura de Três Lagoas.

Bricio Dance

Pole Studio A

Projeto "Éh Cultura" Diretoria de Cultura de Três Lagoas

Thiago Ramalho Cia de Dança

O segundo dia do festival, iniciou com apresentações na Escola Municipal Professora Maria Eulália Vieira. Pela manhã, às 9h, por meio da Mostra Novos Criadores, uma inovação da edição 2022 do festival, a apresentação do espetáculo Sobre tentativas e lugares de recomeço do Grupo Armazém 67 de Campo Grande. À tarde, às 15h, a Cia de Dança do Pantanal apresentou Fernão Capelo Gaivota.

A abertura das apresentações da noite ficou com a Focus Cia de Dança do Rio de Janeiro, com o sucesso de público e crítica, As canções que você dançou pra mim, com coreografia de Alex Neoral para um pot-pourri de músicas de Roberto Carlos. O público se deliciou aos embalos das canções do Rei Roberto que marcaram época.

Focus Cia de Dança em As canções que você dançou pra mim

A noite trouxe também uma programação variada de coreografias de grupos de Três Lagoas, Aquidauana, Campo Grande, Corumbá e Paranaíba.

No sábado, as apresentações começaram com Términus da Luminis Cia de Dança de Campo Grande. O espetáculo foi inspirado em situações vividas pelos bailarinos da Cia, retratando as dores e amores de pessoas interconectadas pelos caminhos da vida. A noite também apresentou coreografia de artistas, grupos e cias selecionados para a Mostra Aberta e foi finalizada pela apresentação do Grand Pas de Quatre de Pugni com a convidada Cia de Dança do Pantanal de Corumbá.

Luminis Cia de Dança

Os grupos selecionados para as apresentações da Mostra Aberta, dias 03 e 04 de julho foram: Aquidauana Cia de Dança, Ballet da Nova Geração, Cia de Dança Canindé, Espaço de Dança Suzana Leite, Grupo Armazém 67, Grupo Conexão Urbana, Grupo Expressão de Rua, Grupo Mahila, Grupo Maktub, Grupo Urbe, Hana Aysha Danças Árabes, Hands UP, Invictus Dance Crew, Oficina de Dança de Corumbá, Soma Cia de Dança, Studio de Dança Beatriz de Almeida, Studio de Dança Mayara Martins.

Grupo Armazém 67

Grupo Expressão de Rua

Grupo Mahila

Grupo Urbe

Hands Up

Soma Cia de Dança

A programação do festival também contou com ações formativas, composta por oficinas de variados estilos de dança, ballet clássico, samba de gafieira e danças brasileiras, e da residência artística, Eu Pulo Bloco, e você? um formato mais alongado de atividade, com três dias de duração e que resultou em apresentação no encerramento do Festival.

Oficina Samba de Gafieira

Oficina de Improvisação a partir das Danças Brasileiras

Residência Eu pulo bloco, e você?

Residência Eu pulo bloco, e você?

Pode-se dizer que um dos momentos mais importantes da edição de 2022, foram as Rodas de Conversa, que aconteceram no alojamento, de maneira diferente dos anos anteriores. Nesta oportunidade, a organização do evento convidou todos os participantes a conversarem de maneira livre sobre as apresentações que viram nos dias do festival, sem direcionamento temático.

Muitos assuntos surgiram, e, elencamos aqui a questão do profissional da dança, tema para tantas e tantas conversas e discussões incansáveis e que possivelmente poderemos abordar numa próxima edição do FD3.

Mas afinal, quem é profissional na dança? A questão surgiu a partir de alguns participantes que perguntaram sobre a diferença entre a Mostra Aberta e Mostra Profissional, já que para os profissionais haveria cachê pelas apresentações, o que já foi explicado no parágrafo inicial. Mas a pergunta ainda está longe de ser respondida. Mesmo porque, provavelmente, não exista um conceito definitivo.

Podemos ao menos levantar mais perguntas e refletir sobre o nosso próprio fazer, para, em outro momento, voltarmos ao assunto.

Então, quem se arrisca a começar o debate?

Fotos: Reginaldo Borges

Texto: Renata Leoni - artista da dança, produtora e gestora cultural, membro da equipe de curadores do FD3

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Festival Dança Três: e a vida continua


Depois da poeira baixada, voltamos para refletir sobre como foi a 4ª Edição do Festival Dança Três, após alguns anos sem poder realizar o evento, por vários motivos, entre eles, e o mais impactante, a pandemia, que nos distanciou dos públicos por mais de dois anos.

Um breve retrospecto das edições anteriores: as primeiras aconteceram em 2013 e 2014, assim, uma atrás da outra, com um lapso de tempo para a realização da terceira edição, que só ocorreu três anos depois, em 2017, e a edição de 2022, a quarta e a última, até agora, realizada pela equipe de artistas produtoras da Arado Cultural.

O Festival Dança Três foi pensado com o intuito de reunir artistas e suas produções variadas, aproximá-los dos públicos da cidade de Três Lagoas, em conexão com os públicos das cidades da fronteira de Mato Grosso do Sul e de São Paulo, criando um ambiente favorável para a troca de experiências e aprendizados. A proximidade de Três Lagoas com cidades do interior de São Paulo, motivou os organizadores a pensarem em maneiras de incentivar os fluxos e os canais de comunicação entre os dois estados, abrindo outras oportunidades de conexão, por meio da dança.

Comecemos pelo fim. Domingo, 5 de junho, Lagoa Maior, Três Lagoas, Mato Grosso do Sul. Havia poeira sim! Levantada pelas danças que por lá movimentaram os chãos e os públicos: pessoas comuns, frequentadoras daquele espaço lindo da cidade, formado em sua maioria por moradores locais, bailarinos participantes do Festival, pessoal da produção, técnicos e organizadores do evento. Um último encontro para celebrar todos os outros que aconteceram e que ainda serão proporcionados por meio da dança.

Nesta tarde, a programação iniciou com a Cia de Dança do Pantanal, de Corumbá, com o trabalho-intervenção Migrantes. A coreografia de Wellington Julio Ferreira da Silva aliada à força de um elenco jovem e potente, hipnotizou os presentes mais distraídos, por meio de corridas pelos espaços da Lagoa Maior, dos movimentos fortes e ritmados e pelos olhares diretos lançados ao público pelos bailarinos e bailarinas da Cia.

Cia de Dança do Pantanal em Migrantes
Cia de Dança do Pantanal

Em um segundo momento, a artista Maria Eugênia Tita, cativou a todos com a deliciosa companhia do seu Cabeção, figurino-personagem inspirado em manifestação popular de São Caetano de Odivelas, cidade do interior do Pará, que se remexe em passos dos ritmos tradicionais brasileiros como Frevo, Coco e Cavalo Marinho. A performance-dança abriu os imaginários das pessoas, e principalmente das crianças, fazendo-as viajar nessa aventura lúdica por meios dos trejeitos jocosos da artista.

Cabeção com Maria Eugênia Tita

O desfecho das apresentações de Domingo foi a apresentação-encerramento da residência artística Eu pulo bloco, e você? orientada por Ana Carolina Mundim, que durante três dias, trabalhou com o grupo de artistas bailarinos, para fazer emergir uma dança-manifesto, que pudesse dar conta de sensibilizar o próprio grupo e as pessoas presentes, e encontrar um estado de festividade coletiva compartilhada. Impossível não se emocionar com a entrega dos bailarinos participantes, desafiados, certamente, por Ana, multiartista, amante do movimento, da natureza e dos encontros.

Eu pulo bloco, e você?
Eu pulo bloco, e você?

A edição de 2022 do FD3 contou com uma programação de 4 dias, com a participação de 200  bailarinos, de Três Lagoas, Aquidauana, Campo Grande, Corumbá e Paranaíba de Mato Grosso do Sul e de outros estados, que se apresentaram na Mostra Aberta e Mostra Profissional, e ainda puderam compartilhar conhecimento e experiências por meio das oficinas e das Rodas de Conversas.

Fotos: Reginaldo Borges

Texto: Renata Leoni - artista da dança, produtora e gestora cultural, membro da equipe de curadores do FD3

sexta-feira, 17 de junho de 2022

impressões FD3 por Gabriela Palieraqui


"Escrever sobre uma experiência tão significativa com certeza deixa até os mais vividos autores de certa forma desconcertados, quanto mais esta artista que vos escreve. Meu nome é Gabriela Palieraqui, sou pesquisadora de profissão e artista de coração. Desde quase sempre danço, desenho, pinto, atuo e escrevo - não necessariamente nessa ordem. 
Se você, assim como eu, participou da quarta edição do Festival Dança Três, imagino que tenhamos um amor em comum: a dança. Por isso, compartilho com você o relato da minha experiência nesses dias. 
Após um período traiçoeiro que derrubou muitos de nós, tivemos a oportunidade de retomar o fôlego em Três Lagoas. E afirmo a você com toda a convicção do mundo: como precisávamos desse fôlego! Tenho plena certeza que não estou sozinha ao dizer que todo o desenvolver do Festival emanava esperança para a nossa categoria. Pude notar isso com cada mostra, cada passagem de palco, cada espetáculo apresentado. 
A qualidade técnica e artística de cada grupo que participou demonstrou excelência e comprometimento com a arte que nos dispomos a produzir. Aliás, creio que essa é uma das características mais nobres em qualquer bailarine: a intencionalidade em ser excelente por comprometimento com a sua arte. 

 

Por falar em excelência, a roda de conversa foi um dos pontos altos do Festival Dança Três! Dentre os assuntos mais discutidos, falamos sobre o corpo dançante em todas as suas singularidades e um dos contrapontos à autenticidade desses corpos: a gordofobia. Foram explicitados relatos de bailarines que sofreram/sofrem com isso e foi discutido sobre o futuro da dança nessa realidade que impõe a estética do "corpo perfeito". 
Outro assunto abordado e amplamente discutido foi a centralidade - ou não - do ballet clássico sobre todas as demais manifestações artísticas: afinal, o ballet é realmente a "base de toda dança"? Nosso objetivo na roda de conversa não era chegar a conclusões (até porque a certeza absoluta acaba por se mostrar regada de ignorância), mas sim, levantar o debate e buscar formas diferentes de abordagem para cada assunto. 
Outro ponto no Festival Dança Três que me deixou sem palavras foram as mostras profissionais. As cias participantes nos transmitiram força e inspiração a partir dos trabalhos cheios de pesquisa e paixão! Cada apresentação, sem dúvidas, renderia aqui uma página inteira de relatos.  
Não posso deixar de citar as oficinas ministradas durante os dias de Festival. Eu participei das aulas de Samba de Gafieira iniciante, e saí de lá convicta a iniciar meus estudos na dança a dois. Um dos ensinamentos que recebemos foi sobre a conexão estabelecida sem palavras na dança, algo que conseguimos praticar já na primeira aula, assim como várias técnicas iniciais nessa modalidade. Embora tivéssemos pouco tempo para o aperfeiçoamento, fomos inspirades e motivades. Inclusive, imagino que essa inspiração se estende a partir das outras oficinas ministradas também, pois pudemos todes sair da nossa zona de conforto e aprender danças diferentes do que estamos acostumades. 
Deixo aqui o meu agradecimento e minha admiração pelo pessoal da Arado Cultural, que organizou esse evento grandioso que nos uniu por esses dias. Pudemos ver o cuidado de vocês e atenção aos detalhes em todos os momentos! Tivemos uma estadia maravilhosa em Três Lagoas, regada a dança, novas amizades e alegria. Que a nossa arte regional continue sendo preservada e promovida com tamanha excelência como o foi no Festival Dança Três. 
Se eu pudesse definir toda essa experiência em uma só palavra, esta seria CONEXÃO. Em todos os momentos pudemos sentir que estávamos todes juntes ali por um objetivo maior que nós mesmos. A arte nos transbordou. 
Os melhores dias são aquelas memórias gravadas em nós tão intensamente que jamais voltamos a ser quem éramos antes. As estações passam por nós, as circunstâncias mudam ao nosso redor, mas essas lembranças e vivências nos transformam de dentro pra fora. 
Obrigada pela oportunidade de vivenciar tudo isso. Até o próximo Festival Dança Três!" 
Gabriela Palieraqui 
Artista e pesquisadora em Desenvolvimento Local

 

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Programação FD3 | cinco de junho

 


15h - Lagoa Maior

MOSTRA PROFISSIONAL

CABEÇÃO
MARIA EUGÊNIA TITA (São Paulo/SP)


Nessa performance, a dançarina Maria Eugenia Tita brinca com o gestual divertido e simpático de seu personagem Cabeção. Partindo dos passos dos ritmos tradicionais brasileiros como Frevo, coco e Cavalo Marinho a figura torna-se um porta-voz cômico do rico alfabeto de passos e trejeitos das nossas danças brasileiras. Em um convite ao lúdico e à graça, o público desfruta de uma breve suspensão da mente para se envolver com o cabeção.

Manipulação: Maria Eugenia Tita
Concepção Cênica: Antonio Nóbrega e Rosane Almeida
Artista Plástico: Sandro Roberto
Esse personagem foi inspirado na tradição "Cabeçudos" da cidade de São Caetano de Odivelas (PA).



MIGRANTES
CIA DE DANÇA DO PANTANAL (Corumbá/MS)


De quantos mediterrâneos são feitos nosso mundo? Alguns gigantescos, ganham força e voz nas notícias de jornais. Outros tão minúsculos que só cabem nas pegadas que deixam em nossas frentes. Uns visíveis, geram comoções e empáticas manifestações. Outros tão pálidos, que apenas os abandonos verbais podem alcançá-los.

De quantas lutas épicas ou inglórias, calculadas ou precipitadas no seu fim, são feitos nossos gestos de acolhimento? Algumas registradas, comentadas, prometidas e esquecidas. Outras, cuja luminosidade atinge a quem interessa, sequer são sabidas.

Por quantas fronteiras eles devem passar? Quantos sonhos devem ser deixados ao lado dos naufrágios diários que têm de enfrentar? Quantos vigores devem ser testados, sob a malha fria da indiferença? Quantos modos de namorar ou amar, rituais de milagres que lembram seus avós, idiomas, cores de pele e registros de passaporte precisam ser tatuados nas decisões de aceitá-los ou não?

Bailarinos: Agustin Salcedo Martin, Aline Silva Espirito Santo, Brenda Lopes Ribeiro, Izabelle Fernandes Paiva , Kauan da Cunha Coelho, Márcio Júnior de Souza Silva, Nayara Conceição Aponte, Nubia Silva dos Santos, Wellington Julio Ferreira da Silva.



A FESTA resultado da residência artística
Proposição: Ana Carolina Mundim (Fortaleza/CE)


A residência Eu pulo bloco, e você? produziu experiências corporais a partir do estudo de dispositivos de improvisação em dança e o desenvolvimento de um processo criativo coletivo, atravessados pela temática do corpo-festa. A principal ideia foi sensibilizar o grupo a encontrar um estado de festividade coletiva, que produzisse um espaço democrático de resistência social e afetiva.